Teto de gastos, bolsa e inflação. O que acontece no Brasil?
- Lucca B. de Menezes
- 17 de nov. de 2021
- 4 min de leitura
A bolsa de valores brasileira hoje já acumula um total de -12% no ano, apresentando quedas consecutivas nos últimos 4 meses, mas empresas seguem crescendo... Assim como a inflação, por quê?
Como vemos desde o início do ano, a bolsa de valores brasileira não está em um ano pra lá de entusiasmante. Entender que estamos em um ano pós-pandemia faz parte, mas quando olhamos para fora de nossas fronteiras, vemos que isso não se reflete em grande parte dos mercados. O que esta acontecendo com nossa querida Bovespa é o famoso Risco Brasil.
Em todo o mundo, as relações humanas são realizadas com base em um único sentimento, seja ela nas entre pais e filhos, casais, amigos ou até mesmo dentro do ambiente de trabalho: CONFIANÇA.
Nos últimos quatro meses ouvimos muito se falar sobre o teto de gastos do governo e como ele esta afetando os seus investimentos. Na verdade, este é o assunto que mais afetou a decisão do Copom na última reunião e que vai afetar novamente na próxima. Esse tal teto de gastos foi responsável pela mudança da curva de juros do nosso país. Não só ele, é claro, mas podemos sim dizer que teve uma grande influencia neste cenário.
PEC 241 de 13/12/2016.
No dia 13/12/2016 foi aprovado a Proposta de Emenda Constitucional 241, que é um programa de 20 anos, tendo início no dia 01 de janeiro de 2017, ou seja, valido até 2037, onde o governo federal teria um teto de gastos para o período.
As premissas básicas da PEC eram as seguintes:
1) As despesas do orçamento seriam limitadas a correção da inflação de um ano para o outro.
2) Revisão a cada 10 anos.
3) Reduzir ou limitar o endividamento em relação ao PIB - já que há uma dívida x PIB de 90%, praticamente tudo que o país arrecada, ele gasta.
Bom, digamos então que o governo gastou em determinado ano 500 bilhões de reais e neste período houve uma inflação de 10%, o teto de gastos para o ano seguinte seria de 550 bilhões. Não é o melhor dos mundos, mas passa a mensagem de que está se tentando reduzir gastos já que historicamente tivemos governos descontrolados em nosso país.
Para nós, isso representa uma melhora na política fiscal, o que atrai investimentos estrangeiros, pois ao olhar para o Brasil: "bom, neste país existem regras". - É aquela questão da CONFIANÇA.
Segundo informação do site do Tesouro Nacional, a inflação em nosso país deste 1997 até 2015 foi de 300% aproximadamente e os gastos do governos teve um aumento de 864%. Ou seja, quase o triplo. O que não aconteceria caso a lei do teto de gastos existisse nestes 18 anos.
Então por que estamos falando disso já em 2021?
A resposta é simples, o governo não irá cumprir com o teto no ano de 2022, quebraram a regra do jogo em menos de cinco anos de sua criação. E você, confia em quem quebra as regras do jogo? - Eu não, pensa o gringo investidor.
Já foi aprovada pela câmara dos deputados e está agora em discussão no senado federal, se aprovado, irá para sansão do presidente e a partir do ano que vem teremos o teto de gastos flexibilizado.
Os pontos que o governo encontrou para esta flexibilização são dois: a mudança no formato de atualização da inflação, o que renderia desta maneira 40 bi de reais a mais e o não pagamento de parte dos precatórios de 2022, o que liberaria mais um limite de 50 bi de reais, totalizando 90 bilhões de gastos para o próximo ano, frente a 40 bilhões que é o proposto pelo teto.
Precatórios são dívidas da União que obrigatoriamente devem ser pagas pois já passaram por todo processo judicial.
Mas e a inflação, qual sua relação?
Bom, sabemos que o Brasil não é um dos maiores produtores de insumos do mundo, o que faz com que nossas industrias necessitem muito de produtos importados para poder agregar valor e vender a nossa população.
Com a redução da confiança em nosso país, muitos investidores estrangeiros que possuem investimentos aqui vendem suas posições, compram dólar e vão embora com seu dinheiro, o que faz a oferta de dólar ficar mais escassa, visto isso, o preço do dólar sobe.
Com dólar mais alto, está agora mais caro para importar, então o preço dos produtos sobe, gerando inflação.
Para controlar inflação, o governo precisa subir a taxa de juros, o que reduz o crédito pois o preço do dinheiro ficou mais caro.
Bom, se ficou mais caro pegar dinheiro emprestado, as pessoas não vão investir em seus negócios e empresas e com o isso o pais cresce menos, o que consequentemente gera menos emprego.
Menos emprego = Menos confiança.
É um ciclo.

Resultados crescendo e preços caindo.
Mesmo diante todo este cenário, vemos grandes empresas da bolsa entregando excelentes resultados, margens EBITDA mais altas em relação ao seu histórico, lucro líquido acima das expectativas e o preço da ação caindo dia após dia.
Quando olhamos para a nossa bolsa, segundo estudo realizado pela XP Investimentos, investidores estrangeiros representam 49,25% de participação, seguidos de Investidores Institucionais com 24,18% e Pessoas Físicas com apenas 20,18% e Instituições Financeiras com aproximadamente 5,00%.
Quase metade do volume financeiro na bolsa brasileira pertence a estrangeiros, e como vimos acima não estão aptos a participar da crise fiscal que estamos passando, levam seu capital embora e derrubando o preço dos ativos.
O Brasil apresenta excelentes oportunidades e grandes negócios podem se valorizar muito ao longo do tempo, sim. Mas em um ambiente desgovernado, sem regras e de políticas fiscais avessas, eu não apostaria todas minhas fichas em terras tupiniquins.
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